Pergunte ao especialista: tudo o que você precisa saber sobre nutrição personalizada para pacientes internados

Uma abordagem baseada em evidências

• A desnutrição é um problema predominante entre os pacientes sob supervisão médica, especialmente em pacientes mais velhos com múltiplas morbidades. A falta de dados disponíveis para apoiar a melhor abordagem de nutrição para pacientes internados significa que a inovação ou a equipe médica de R&D não conseguiu implementar nenhuma mudança significativa e benéfica na nutrição médica. Este artigo, no entanto, discute as pesquisas e descobertas mais recentes a fim de fornecer sugestões para uma abordagem baseada em evidências para a nutrição personalizada em ambientes hospitalares.
  
• &Em nossa mais recente entrevista "Pergunte ao especialista", conversamos com o professor Philipp Schütz, que participou de alguns dos estudos recentes, sobre como médicos, profissionais de pesquisa e desenvolvimento, pesquisadores e equipes hospitalares podem usar a nutrição personalizada para melhorar os resultados clínicos dos pacientes.
  
• Essa pesquisa é fundamental para beneficiar a comunidade médica em geral. Por exemplo, ela pode ajudar e informar projetos como o EAN, dsm-firmenich e o recém-formado grupo de trabalho sobre desnutrição de outros parceiros, que tem o objetivo de minimizar a desnutrição em idosos em ambientes de cuidados.

Nutrição personalizada: uma mordida de cada vez

Na nutrição médica, o conceito de suporte nutricional individualizado e baseado em evidências, ou nutrição personalizada, é um assunto relativamente inexplorado. No entanto, estudos recentes demonstraram que uma abordagem personalizada da nutrição médica tem grande potencial para melhorar os resultados clínicos dos pacientes.

A redução do apetite é uma reação comum a doenças agudas. O jejum estimula a autofagia (reciclagem intracelular de estruturas defeituosas), permitindo que o corpo limpe as organelas danificadas e promovendo a regeneração de organelas novas e saudáveis, o que pode ajudar o corpo a superar determinadas doenças.

No entanto, com o aumento das doenças não transmissíveis (DNTs) - geralmente doenças crônicas - esse mecanismo nem sempre é eficaz. Em muitos casos, a redução do apetite não é útil para o corpo e leva à desnutrição, o que, por sua vez, piora os resultados de saúde.¹ Em teoria, os planos de nutrição individualizados podem ajudar a preencher as lacunas nutricionais para evitar que o paciente fique desnutrido.

Nos últimos anos, alguns estudos de pequena escala sugeriram que o suporte nutricional individualizado pode ter efeitos positivos nos resultados clínicos de pacientes médicos. No entanto, as metanálises desses estudos reconheceram que a falta de resultados significativos na comprovação da eficácia de uma abordagem personalizada provavelmente se deve a questões metodológicas e ao baixo poder estatístico, e não à eficácia da abordagem em si.²

Para testar com precisão se uma abordagem personalizada da nutrição médica é benéfica, e como, estudos em larga escala explorando o efeito de planos nutricionais personalizados para pacientes hospitalizados foram realizados nos últimos meses. Por exemplo, o estudo NOURISH (Nutrition effect On Unplanned Readmissions and Survival in Hospitalized patients) testou recentemente o efeito de um suplemento nutricional à base de proteína, em comparação com um placebo, sobre os resultados clínicos em pacientes idosos desnutridos. Os resultados sugerem que o suplemento contribuiu para melhorar os resultados, como a redução da mortalidade em 90 dias, embora o desfecho primário composto, incluindo readmissão hospitalar ou morte, não tenha sido significativamente melhorado pela intervenção nutricional.

Outro estudo significativo, com um tamanho de amostra notavelmente grande, que destaca ainda mais o potencial da nutrição personalizada para pacientes hospitalizados é o estudo EFFORT (The Effect of early nutritional support on Frailty, Functional Outcomes, and Recovery of malnourished medical inpatients Trial). Esse estudo constatou que os planos nutricionais personalizados para pacientes hospitalizados em risco nutricional melhoraram significativamente os resultados clínicos, incluindo menor risco de complicações e redução da mortalidade.³ Você pode ler mais sobre esse estudo e suas descobertas aqui para saber mais sobre Nutrição Personalizada.

Entrevista com o professor Schütz sobre o tema "Pergunte ao especialista

Para entender melhor o impacto potencial desses estudos, conversamos com o professor Schütz, especialista em nutrição médica, do Departamento de Medicina Interna da Universidade, do Kantonsspital Aarau e da Faculdade de Medicina da Universidade da Basileia, na Suíça. Ele foi o principal pesquisador do estudo EFFORT e, aqui, compartilha suas ideias sobre o aprofundamento da pesquisa e a implementação dos resultados para beneficiar os pacientes.

P: Por que os estudos recentes sobre nutrição baseada em evidências, como o EFFORT, são tão importantes para pacientes internados?

A: Embora a desnutrição seja uma condição altamente prevalente no ambiente hospitalar, especialmente em pacientes idosos com múltiplas morbidades, a comunidade médica tem se esforçado para encontrar abordagens eficientes e baseadas em evidências para sua prevenção e tratamento. A importância de comprovar a eficácia não pode ser subestimada. Como a adesão é frequentemente um problema devido à redução do apetite e ao apelo limitado das abordagens de nutrição médica (como suplementos orais ou até mesmo nutrição enteral e parenteral), os benefícios precisam ser comprovados para incentivar o uso.

O EFFORT lança uma nova luz sobre os benefícios da nutrição baseada em evidências, demonstrando que o suporte nutricional individualizado reduz as complicações graves e melhora a mortalidade em pacientes médicos internados, com efeitos positivos sobre os resultados funcionais e a qualidade de vida. Esse é um grande passo na aceitação da nutrição personalizada no campo da medicina, pois permite que os profissionais médicos desenvolvam uma abordagem baseada em evidências para apoiar os pacientes.

P: Como os resultados do EFFORT afetarão as abordagens atuais de atendimento ao paciente?

R: Esses resultados devem nos levar a aprimorar o gerenciamento da desnutrição em ambientes hospitalares, elevando o estado nutricional dos pacientes na lista de prioridades médicas. Por exemplo, essa nova abordagem deve começar com uma triagem sistemática do risco de desnutrição em pacientes admitidos, uma avaliação eficaz do estado nutricional em equipes multidisciplinares, incluindo nutricionistas, enfermeiros e médicos, e o início precoce do suporte nutricional adequado e individualizado de pacientes em risco para atingir as metas nutricionais.

P: O que o estudo revelou sobre os benefícios relacionados ao custo das intervenções nutricionais baseadas em evidências?

R: Como somos alguns dos primeiros cientistas a testar os benefícios médicos da nutrição personalizada para pacientes médicos em grande escala, ainda não avaliamos os custos-benefícios detalhadamente. No entanto, estudos demonstraram benefícios clínicos significativos a partir de uma intervenção bastante pequena, o que sugere que os benefícios relacionados ao custo são alcançáveis.

P: O que precisa ser feito para aumentar a conscientização sobre esses benefícios?

R: É essencial aumentar a conscientização sobre os riscos da desnutrição em pacientes internados, não apenas para a comunidade médica, mas também para os pacientes e seus familiares. Os médicos e os CEOs dos hospitais são altamente influentes quando se trata da implementação de tais abordagens nutricionais. Para que a nutrição personalizada atinja seu potencial em aplicações médicas, precisamos educar essas principais partes interessadas com os dados mais recentes com respaldo científico.

P: Como podem ser explicados os efeitos negativos do tratamento nutricional excessivo em alguns estudos e o que pode ser feito para superá-los?

R: Evidências adicionais são a solução para superar qualquer ambiguidade em relação à eficácia nutricional. Atualmente, faltam estudos em larga escala que tenham usado uma metodologia rigorosa com alta adesão ao protocolo. Por exemplo, o estudo NOURISH mediu o uso de uma pílula com alto teor de proteína em comparação com um placebo com baixo teor de proteína, o que não deixa claro se os efeitos foram devidos à fórmula específica usada ou à diferença nas proteínas. Embora o estudo EFFORT ajude a preencher essa lacuna de conhecimento, mais pesquisas realizadas com metodologia e padrões semelhantes nos ajudarão a explorar isso ainda mais.

Também podemos considerar que o termo "medicina personalizada" está relacionado à observação de que nem todos os pacientes apresentam a mesma resposta às terapias médicas. Por exemplo, enquanto alguns pacientes podem apresentar um benefício acentuado com a terapia nutricional, outros pacientes podem ter um benefício limitado ou até mesmo nenhum benefício com essa intervenção. O fato de um paciente se beneficiar ou não da terapia nutricional pode estar relacionado a fatores específicos da doença (por exemplo, comorbidades, curso agudo ou crônico) ou a fatores específicos do paciente (por exemplo, idade, gênero, elementos genéticos). Além disso, podem existir assinaturas específicas que ajudarão a identificar os pacientes que podem ou não se beneficiar da terapia nutricional. A compreensão desses fatores será de grande importância no futuro para usar as intervenções nutricionais de forma mais específica e eficiente.

P: Que áreas os futuros ensaios clínicos precisam abordar para que haja mais evidências sobre o papel positivo que a nutrição pode desempenhar na melhoria dos resultados dos pacientes médicos?

R: Compreender o uso ideal do suporte nutricional em pacientes com doenças agudas é complexo, pois o momento, a via de administração e a quantidade e o tipo de nutrientes podem afetar os resultados dos pacientes. São necessárias mais pesquisas e ensaios clínicos para compreender melhor, passo a passo, como podemos usar a nutrição clínica da melhor forma para maximizar a recuperação de nosso paciente. Pesquisas futuras devem considerar elementos como momento, dose e viabilidade do tratamento nutricional. É importante que qualquer novo estudo seja bem conduzido, usando um tamanho de amostra adequado, para garantir que conclusões precisas sejam tiradas dos resultados.

P: O que pode ser feito para incentivar a continuação do suporte nutricional depois que o paciente deixa o hospital?

R: É importante continuar monitorando o estado nutricional dos pacientes após a alta, pois há um risco significativo de deterioração do estado nutricional depois que eles deixam o hospital. Os efeitos positivos de qualquer suporte nutricional provavelmente serão mais pronunciados se continuarem, portanto, considerar as diretrizes e o suporte aqui para os pacientes e seus familiares ou cuidadores também é um fator fundamental para obter os melhores resultados.

R: Essa pesquisa é fundamental para ampliar o potencial da nutrição personalizada para a área médica. A implementação prática desses planos é de grande importância para a dsm-firmenich. Por exemplo, um grupo de trabalho sobre desnutrição formado recentemente, dirigido pela European Aging Network EAN com a contribuição da dsm-firmenich, tem o objetivo de criar diretrizes sobre o atendimento nutricional em instalações de serviços sociais para idosos.

A pesquisa tem o potencial de ajudar a moldar e validar quaisquer recomendações para melhorar o estado nutricional e os benefícios de saúde associados, como os resultados clínicos.