21/06/2017 | Autor: Mylene Abud
Em um primeiro momento, a palavra pode até assustar. Afinal, no verbete do dicionário, o termo está ligado à ideia de “substituição” e “transmissão dos direitos e bens de quem faleceu”. No entanto, sucessão não pressupõe necessariamente a morte ou a perda de um ente querido. E em uma leitura mais atenta ao próprio dicionário, também veremos a associação da palavra ao ato de continuidade.
Suceder seria passar o bastão, transferindo a experiência daquele que criou e ajudou a consolidar a empresa para que as novas gerações possam manter o negócio com produtividade e lucratividade. Nesse processo, alia-se o conhecimento adquirido pelo membro mais experiente às tecnologias modernas.
O processo não é fácil e suscita muitas dúvidas. Será que o sucessor tem vocação para dar continuidade a tudo o que já foi construído? Como dividir o patrimônio e minimizar o conflito de gerações? E, principalmente, qual o momento ideal para começar a pensar no processo de sucessão?
Para debater essas e outras questões que envolvem o tema, a revista Noticiário reuniu, no dia 29 de novembro, em São Paulo (SP), uma equipe multidisciplinar de especialistas para discutir o assunto, que será abordado em uma série de reportagens ao longo das próximas edições. Segundo o coordenador da equipe, o consultor, pesquisador e diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Francisco Vila, a sucessão é o fenômeno mais complexo na modernização das agropecuárias e precisa de uma abordagem holística, multidimensional e permanente. Anualmente, 20.000 fazendas de médio e grande porte passam para as novas gerações. Dessas, somente 20% se prepararam de alguma forma e 15% das empresas rurais, no máximo, vivem o processo de maneira adequada.
“A colaboração entre gerações e entre patrões e empregados representa uma novidade que precisa ser entendida e conquistada ao longo do tempo. Pais, filhos, gerentes, fornecedores e clientes constituem o novo universo integrado no qual se realiza a produção sustentável de bens e serviços. A empresa familiar deve encarar esse desafio como oportunidade”, opina Vila, acrescentando que a ideia é pensar em cogestão, em integrar para crescer. “Cogestão é uma exigência da atividade empresarial moderna, na qual é preciso integrar a sabedoria da experiência com a tecnologia e a visão complexa e dinâmica dos processos produtivos. Ninguém tem mais o domínio de todos os conhecimentos e práticas”, observa.
A opinião é partilhada pela Dra. Alessandra Fachada Bonilha, assessora em mediação e governança de lideranças e organizações, especialista que contempla os aspectos da psicologia familiar. “Falar de sucessão é de vital importância na medida em que a família pode planejar e aproveitar o ambiente criado para a troca de experiências, criando um processo de transição e cogestão ativa. E este planejamento deve ser construído a partir de um diálogo em que se escutam os interesses dos membros da família e, a partir deste ponto, em uma visão multidisciplinar, são realizados trabalhos nos três sistemas em que o grupo está inserido: Família, Propriedade e Empresa”, destaca.
Na foto, da esquerda para direita: Francisco Vila, Fábio Matuoka Mizumoto, Alessandra Fachada Bonilha e Henrique Petrilli Olivan
“É importante falar sobre a sucessão na gestão para preparar quem vai passar o bastão e quem vai suceder. É importante falar sobre a sucessão patrimonial para organizar o que é da pessoa jurídica e o que é da pessoa física, para provisionar recursos que serão necessários, como tributos, e para reconhecer os planos individuais dos herdeiros na forma de conduzir a divisão dos bens. É preciso ter conhecimentos do direito sucessório, do direito de família, de direito societário, sobre governança empresarial e governança familiar”, reitera o professor da FGV-SP, doutor em Administração e sócio da Markestrat, Fábio Matuoka Mizumoto.
Em concordância com as opiniões apresentadas na discussão, o advogado Henrique Petrilli Olivan, sócio da L.C. Olivan e membro da Rural Jovem, lembra que, no âmbito jurídico, o planejamento sucessório é importante principalmente para a elaboração de planos definidos de obrigações e direitos entre as partes, ou seja, a definição da “regra do jogo”; a economia tributária; e a proteção patrimonial relacionada a terceiros.
Mas, então, qual é o melhor momento para falar sobre a sucessão? Na opinião de todos os participantes, o momento é agora! Isso não significa que a transição terá de ser feita imediatamente. “Falar sobre a sucessão ou planejá-la não significa fazer a sucessão agora, mas deixar o processo preparado para quando se tornar necessário implementá-la”, explica Fábio Mizumoto.
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