23/01/2018 | Autor: Larissa Vieira
Manter a família trabalhando unida nos negócios não é tarefa simples em qualquer setor. Mais de 80% das empresas no Brasil são familiares, principalmente no agronegócio, mas somente cerca de 5% delas chegam à terceira geração, segundo dados da consultoria Safras & Cifras. A maior parte termina por conflitos entre os sócios familiares, que não sabem separar o que é o patrimônio da empresa e da família, sustento e investimento.
Como estar entre os 5%? Um dos caminhos para chegar lá é realizar o quanto antes o planejamento sucessório. “Esta é uma ferramenta poderosa que deve ser usada enquanto os patriarcas ainda estão vivos, têm boa saúde e lucidez para comandar os negócios. Assim, eles podem decidir qual o melhor direcionamento para dar ao patrimônio e como gostariam que seus filhos usassem a herança que deixará a eles futuramente”, ensina o advogado e consultor da RCA Governança e Sucessão, Marcos Leandro Pereira.
Lembrando que, no Brasil, ainda há um conceito equivocado de que o planejamento sucessório está ligado à morte do patriarca ou à sua velhice, ele ressalta que o processo, quanto mais cedo for realizado, terá mais chances de proteger o patrimônio da empresa. E se já tiver surgido algum conflito de relacionamento entre os sucessores, a necessidade de implantação do planejamento se torna urgente.
Este não é o caso da família do pecuarista Júlio Vieira Neto, mas ele já iniciou o processo para legalizar a sucessão. De comum acordo com toda a família, ficou decidido que a gestão do negócio seguirá com a filha, Camilla Vieira. “A parte burocrática da sucessão ainda está em andamento, mas já gerencio o negócio há algum tempo, com meu pai me dando suporte sempre que pode, e conto com uma equipe bem eficiente”, diz Camilla, que tem uma irmã também médica-veterinária, mas que prefere atuar na área de saúde pública.
Camilla assumiu a gerência de todas as propriedades há 12 anos, depois de passar um período prestando assistência para várias fazendas, incluindo as da sua família. Com a expansão dos negócios, optou por trabalhar exclusivamente com o pai. Hoje, além da parte administrativa, ela é responsável pela reprodução do rebanho e pela comercialização de animais. E, com referência à área de nutrição, conta com os produtos e a assistência da Tortuga | dsm-firmenich, prestada pelo técnico Thiago Andreolli.
O rebanho PO da raça Nelore e de cavalos Quarto-de-Milha está concentrado na Fazenda Santa Margarida, em Bofete (SP). “Meu pai tem feito tudo para que a sucessão aconteça de forma tranquila.
Para minha irmã e minha mãe, também é natural que eu seja a gestora dos negócios”, conta Camilla.
Segundo os especialistas, o planejamento sucessório vai além da parte de governança e gestão. “Essa é, ainda, uma forma de proteção patrimonial e de reduzir o pagamento de tributos”, explica o consultor da RCA Governança e Sucessão. É que, sobre a herança ou doação dos bens para os sucessores, incide o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), que tem alíquota diferente em cada estado. A base de cálculo é o valor venal dos bens, dos títulos ou dos créditos transmitidos ou doados. Também pode haver a cobrança de Imposto de Renda sobre o Ganho de Capital, dependendo da situação, quando o herdeiro decide vender um imóvel. Então, um planejamento sucessório e tributário bem feito é capaz de propiciar grande economia aos herdeiros, sem que se burle a lei. Cada caso exige um planejamento específico e um profissional especializado no assunto pode orientar a família nesse processo.
Planejar a sucessão com antecedência permite, ainda, minimizar possíveis conflitos entre os herdeiros, além de facilitar a transição da titularidade do patrimônio para garantir a continuidade do negócio familiar. “Esta é uma prática cada vez mais incentivada pelos próprios bancos e pelas cooperativas, pois quando você estimula o planejamento, também está incentivando as boas práticas de Governança, que melhoram o resultado da empresa porque garantem a transparência, a equidade, a prestação de contas e a sustentabilidade dos negócios.
Além disso, gera uma reflexão sobre a qualidade da gestão”, enfatiza o consultor da RCA, que, há 15 anos, atua na área de Planejamento Sucessório no agronegócio.
Como pequenas decisões podem ser determinantes para uma propriedade alcançar ou não o resultado esperado, definir o papel de cada membro nos negócios é essencial. Na família Vilhena, dois dos quatro filhos já demonstraram interesse em dar continuidade aos negócios. O amor do pai, Aristides, pela terra e pelo gado foi o que incentivou a médica-veterinária, Carolina Villhena Bittencourt, a trilhar o caminho desbravado por ele ainda na década de 80. Foi nesta época que o senhor Aristides conseguiu realizar seu sonho de menino e se tornou fazendeiro ao adquirir uma propriedade no município de Prata (MG). Lá, Carolina e as irmãs acompanhavam a lida do pai na criação de gado e se divertiam andando a cavalo. “Meu pai conseguiu erguer as empresas da família com muito trabalho e esforço. Hoje, essa paixão pela terra também é minha. Sou responsável pela gestão da parte de pecuária do negócio e o meu irmão atua na indústria de charque, mas meu pai continua à frente dos negócios”, explica Carolina.
Na pecuária, a família trabalha com o ciclo completo, dividido em duas propriedades, uma em Minas Gerais e outra em São Paulo. A base do rebanho é de animais meio-sangue Nelore/Angus. A engorda é feita no semiconfinamento, com o gado suplementado com produtos Tortuga | dsm-firmenich e em sistema rotacionado de pastagem. Além de cuidar da parte de pecuária de corte, Carolina comanda na fazenda localizada em Bofete (SP) a queijaria “Belafazenda”, onde produz queijo artesanal.
O planejamento sucessório já foi realizado pela família, que contou com a ajuda de um escritório especializado para auxiliá- los no processo. Aos 72 anos, o senhor Aristides continua atuante no negócio, trabalhando conjuntamente com os dois filhos que se interessaram por participar da sucessão.
Para os especialistas, os benefícios do planejamento sucessório superam a manutenção do negócio, já que, com ele, também é possível evitar atritos que podem gerar rompimento familiar, com disputas por patrimônio e poder.
Um problema que afeta as empresas familiares e leva à divisão precoce dos bens é a reivindicação, por algum membro da família, de sua parte do negócio. Isso ocorre, principalmente, entre os filhos que não estão atuando no dia a dia da empresa e desconhecem as necessidades do negócio e o poder de endividamento. Para viabilizar os negócios, é comum que os produtores rurais realizem empréstimos. Os herdeiros que não participam ativamente da gestão podem deduzir que, como estão sendo feitos vários investimentos, há dinheiro sobrando em caixa e querem sua parte nos negócios.
Ainda é preciso determinar regras claras para o uso do patrimônio da empresa pelos sucessores. A partir dos fundadores, é preciso criar, na primeira geração, uma nítida separação entre patrimônio e família. O caixa da empresa não pode ser o caixa comum da família, pois, com a chegada das novas gerações, é provável que o dinheiro da empresa não seja suficiente para sustentar todos os seus membros.Segundo Pereira, é muito comum nas empresas familiares misturar os dois patrimônios.
Para evitar esses problemas, muitos grupos familiares do agronegócio estão criando holdings, que possibilitam implementar o planejamento sucessório e ferramentas de organização, controle e economia tributária. Além disso, a holding familiar cria mecanismos para a proteção patrimonial comum de atos e negócios pessoais dos herdeiros e possibilita a constituição de estruturas societárias que separem as áreas produtivas das patrimoniais.
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